O Mundial de Clubes perdeu seu propósito
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O Mundial de Clubes da FIFA não é mais uma medida adequada para decidir o melhor time de clubes do mundo.
Devido aos enormes investimentos no futebol europeu na última década, os clubes europeus (UEFA) têm uma grande vantagem monetária sobre o resto do mundo e podem comprar os melhores jogadores, o que lhes dá uma grande vantagem sobre as outras confederações.
Além disso, o formato do torneio é definido para favorecer a UEFA e a América do Sul (Conmebol), o que é injusto para as outras equipes.
O problema é que a competição não conseguiu acompanhar as mudanças do jogo e, por isso, perdeu relevância e propósito.
OBJETIVO DO TORNEIO
A competição foi iniciada em 2000 (quando absorveu sua antecessora, a Copa Intercontinental) e foi formada como uma competição anual para mostrar os melhores talentos locais das várias confederações.
A ideia era que os vencedores de cada torneio continental competissem entre si e o vencedor fosse coroado como o melhor clube do mundo. Esta era a teoria, mas na prática acabou sendo diferente.
Anteriormente, os melhores jogadores não europeus seguiam suas carreiras em seus países de origem e eram desconhecidos do público estrangeiro.
O Mundial de Clubes deu a esses jogadores a chance de mostrar suas habilidades no cenário mundial e naquela época havia paridade entre clubes da Europa e da América do Sul.
As equipes da Conmebol conquistaram o troféu nos três primeiros anos da competição, mas depois disso as seleções europeias dominaram e o equilíbrio de poder mudou para a Europa.
DAVID vs GOLIAS
O início do domínio europeu coincidiu no início do século atual com um influxo maciço de investimentos no futebol da UEFA em nível de clube.
A consequência disso é que hoje existe uma grande disparidade de renda entre os clubes europeus e as outras confederações.
O vencedor da Liga dos Campeões da Europa ganha muito mais dinheiro do que os outros torneios continentais juntos.
O Real Madrid faturou US$ 70,1 milhões na temporada passada ao vencer a Liga dos Campeões da UEFA.
Em contraste, o San Lorenzo faturou US$ 6,1 milhões ao vencer a Copa Libertadores (Conmebol), o ES Setie faturou US$ 1,8 milhão ao vencer a Liga dos Campeões da África (CAF) e, na Ásia, o Sydney Wanderers ganhou quase o mesmo ao derrotar o Al Hilal da Arábia Saudita nas duas mãos (YAHOO ESPORTES – Por que o Mundial de Clubes ainda luta por relevância?; por Peter Staunton, 12 de dezembro de 2014).
Com tanto dinheiro em mãos, os melhores talentos que o dinheiro pode comprar estão nas principais ligas da Europa, atraídos pelos contratos lucrativos que essas ligas têm a oferecer.
Isto significa que a Europa tem à sua disposição o seu próprio talento e tudo o que o resto do mundo tem.
Os maiores perdedores no êxodo de talentos do futebol para a Europa são o Brasil e a Argentina, que são os principais exportadores de jogadores, então o que é ganho da Europa é perda da América do Sul.
Assim, todos os outros times no Mundial de Clubes estão em desvantagem em comparação com o detentor da Liga dos Campeões da Europa.
O torneio evoluiu de uma rivalidade para uma batalha de Davi contra Golias, entre clubes europeus representados por um equivalente a um onze mundial composto principalmente pelos melhores jogadores internacionais e os peixinhos, compreendendo o que resta após o melhor de seus talentos foram desviados pelos grandes clubes da UEFA.
O atual campeão, o Real Madrid, é uma combinação de alguns dos melhores e mais caros jogadores internacionais vindos da Espanha (Casillas e Sergio Ramos), França (Benzema e Varane), Portugal (Ronaldo e Pepe), Alemanha (Kroos), Brasil (Marcelo), Colômbia (Rodriquez), País de Gales (Bale) e México (Chicharito).
Esta assembléia de jogadores é pouco representativa do jogo local na Espanha. Por três jogadores, a saber, Cristiano Ronaldo, Gareth Bale e James Rodriquez, o clube pagou US$ 367,8 milhões.
Apenas doze clubes no mundo possuem um elenco de jogadores cujo valor de mercado vale mais do que o custo total desses três.
Compare isso com o Auckland City FC, um de seus concorrentes na Copa do Mundo de Clubes deste ano, que é um time de meros amadores com ocupações em tempo integral fora do futebol.
Uma olhada em alguns dos campeões anteriores revela o forte componente estrangeiro de suas equipes. Em 2010, quando a Inter de Milão (Itália) venceu a copa, apenas 5 jogadores em sua equipe de 23 eram italianos, enquanto o restante era principalmente da América do Sul.
Mesmo os comentaristas de televisão não conseguiram acompanhar as mudanças, pois ainda se referiam à equipe do Inter como ‘os italianos’.
Em 2011, o Barcelona venceu a copa e 10 de seus 23 jogadores eram estrangeiros.
FORMATO BIZARRO
Outro grande problema do torneio é que times da Uefa e da América do Sul são dispensados das semifinais e começam a jogar mesmo depois de alguns times serem eliminados.
Isso é feito intencionalmente para que apenas os maiores clubes se enfrentem na final. Até ao momento só venceram equipas desses dois continentes e apenas uma equipa de fora chegou à final, nomeadamente o finalista surpresa do ano passado, o TP Mazembe, formação congolesa.
Dada a vantagem financeira da UEFA e o formato bizarro que está atualmente em vigor, o Mundial de Clubes dificilmente pode ser chamado de a mais justa das competições e o vencedor não pode ser legitimamente chamado de ‘o melhor do mundo’, assim como os vencedores do primeiro Copa Intercontinental que era limitada a UEFA e Conmebol.
O torneio perdeu sua importância e dificilmente é digno de se gabar. Alguns anos atrás eu ganhei um concurso de dança, mas os outros competidores não sabiam dançar, então minha vitória era algo para se gabar?
Alguma paridade precisa ser restaurada para a competição. Brasil e Argentina começaram a aumentar os salários em suas ligas locais para atrair seus jogadores a permanecer em casa.
Isso é um começo, mas, além disso, a FIFA deve limitar o número de jogadores estrangeiros disponíveis para cada equipe para, digamos, dois e mudar o formato para que todas as equipes concorrentes joguem o mesmo número de partidas classificatórias.
Caso contrário, é inútil continuar a competição em sua forma atual.
Victor A. Dixon
23 de dezembro de 2014
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Copa do Mundo